Todos os textos de Yoga descrevem a culminação do Yoga como uma experiência única. Muitas palavras são empregadas para descrever tal experiência, incluindo kaivalya, que significa ‘descansar em si mesmo’, moksha, que significa ‘ libertação’, e shunyata, que significa ‘plenitude vazia’. Cada uma dessas palavras tem a sua nuança de significados particular, refletindo as diferentes tradições de onde se originam, mas todas se referem a uma experiência de despertar em que se descobre o verdadeiro Ser, e onde se alcança a libertação da personalidade do dia-a-dia.
Uma das melhores descrições para essa experiência de iluminação é a palavra composta Satchidananda, do sânscrito. Uma exploração sobre o seu significado irá esclarecer o Sadhya, ou o resultado final do Yoga:
- Sat significa ‘verdade’, e se refere à compreensão de que o verdadeiro Ser que nós vivenciamos através do Yoga é a realidade suprema, considerando secundária a personalidade do dia-a-dia, com todos os seus gostos e aversões. Na perspectiva do Yoga, todo o complexo corpo-mente é, na realidade, um veículo para a descoberta do verdadeiro Ser. Nós vivenciamos esse verdadeiro Ser como Consciência de Unidade que é o conhecimento, a consciência pura que está sempre presente, além da paisagem instável da mente.
Essa natureza primordial da Consciência pode ser substanciada pelo fato de que podemos estar conscientes de tudo em nossas vidas, inclusive de nossos corpos e mentes, mas a Consciência, em si, não pode jamais ser um objeto, sendo, sempre, o sujeito. Por ser primária, é dito que a Consciência é verdadeira, ou Sat. É essa Presença Consciente além da personalidade que nós vivenciamos através do Yoga.
- Chit significa ‘Consciência’, referindo-se à natureza ilimitada da Consciência. Um aspecto fundamental da personalidade do dia-a-dia é a limitação. Somos limitados pelo tempo e pelo espaço. Somos limitados também em termos de energia e de recursos. Finalmente, somos limitados em conhecimento e em compreensão. Ao descobrir e desvendar o verdadeiro Ser, nós nos alinhamos à Consciência cuja natureza é ilimitada.
A Consciência não é limitada pelo espaço, lugar ou tempo. Por meio da prática do Yoga, as fronteiras da consciência se expandem, e as limitações que nos aprisionam começam a se dissolver. Ao nos alinharmos à Consciência, uma nova experiência de nós mesmos se desenvolve e as nossas fronteiras se expandem, envolvendo toda a criação. A expansão da nossa percepção do Ser vem acompanhada por uma percepção da união com tudo o que existe.
- Ananda significa ‘bem-aventurança’ e descreve a natureza do verdadeiro Ser como contentamento intrínseco e plenitude. Ao vivenciarmos a verdade do Ser essencial, Sat, juntamente com Chit, a natureza ilimitada da Consciência, abre-se o portal para Ananda, o contentamento incondicional que é a nossa verdadeira natureza. A felicidade que às vezes sentimos no nível da personalidade é um reflexo limitado da Bem-Aventurança da Consciência. Enquanto a felicidade do dia-a-dia é limitada e inconstante, Ananda é infinita e imutável. Quando a Verdade, a Consciência e a Bem-aventurança fundem-se como nossa verdadeira natureza, e nós podemos nos entregar, mais e mais, a essa experiência, seja na prática do Yoga ou no dia-a-dia de nossas vidas, isso é Sadhya, a experiência suprema do Yoga. Quando essa experiência de Satchidananda satura todo o nosso ser, essa é a experiência de moksha, ou libertação total.
Extraído de Introdução ao Yoga , Joseph Le Page 2009