MANTRA YOGA

Mantra Yoga é o Yoga do som sagrado, e é um dos fundamentos da tradição védica de onde todas as outras formas de Yoga surgiram.  Os textos da tradição védica, denominados Os Vedas, datam de mais de 5.000 anos. Esses textos consistem de uma série de mantras dedicados a deidades específicas.

Os mantras desses antigos Vedas são usados no contexto de rituais para alcançar propósitos específicos, tais como saúde, riqueza ou fertilidade. A palavra mantra deriva da raiz sânscrita man, que significa ‘mente’, e de tra, que significa ‘conduzir’. Portanto, os mantras são sons que mantêm a mente em um foco, ou intenção, específico. Nos rituais védicos, os mantras eram súplicas dirigidas aos deuses, na busca por favores específicos. Com a evolução, o mantra tornou-se um veículo de autoconhecimento, através da focalização da mente numa determinada deidade que inspira qualidades que contribuem para o despertar do conhecimento do Ser.

Por exemplo, o nome do deus elefante, Ganesha, é entoado quando se deseja remover obstáculos presentes no caminho espiritual e na vida diária. Shiva é um arquétipo para a perfeição da prática de Yoga, e Krshna é o arquétipo do amor devocional plenamente despertado. Ao entoarmos mantras dedicados a essas deidades, a mente mundana consegue atingir um estado de unidade com os aspectos específicos do conhecimento do Ser   representados por cada uma dessas deidades.  Shiva e Krshna estão entre as deidades mais importantes em Mantra Yoga porque eles representam os dois aspectos fundamentais de todos os caminhos: conhecimento e ação. Shiva é o arquétipo supremo da ação, atravessando eras em meditação. Krshna é o arquétipo do amor devocional, a quem os devotos se rendem por sua afeição. Os Mantras, sejam escritos ou cantados, são mais do que meras palavras e letras. O idioma em que eles foram escritos, o sânscrito, desenvolveu-se mais como um meio de comunicação espiritual do que como uma língua falada. O alfabeto sânscrito foi desenvolvido de modo a representar, sistematicamente, todos os sons que podem ser produzidos dentro da boca humana. É dito que o próprio universo foi criado pelo som, sendo o alfabeto sânscrito, portanto, um mapa ou modelo, um microcosmo do universo. Todo o universo, o microcosmo e o macrocosmo, está encapsulado pelo som OM.

Na perspectiva do Yoga, todo o universo originou-se do som ‘OM’, portanto quando entoamos o mantra OM, entramos em sintonia com a frequência vibratória do universo.  Todas as diversas deidades usadas em Mantra Yoga são facetas do universo representado por OM. Em um nível mais profundo, OM é a essência da manifestação do universo. OM também é a Inteligência no coração do universo. Por essa razão, OM é o principal de todos os mantras, e também um componente essencial de mantras dedicados a outras deidades.

A prática de Mantra Yoga normalmente consiste em entoar um mantra, um determinado número de vezes a cada dia, até completar o número de repetições que se propõe. Em geral, o número de vezes que o mantra é repetido é alguma variação do número sagrado 108. Uma prática completa seria entoar um determinado mantra 108 vezes, repetidas vezes a cada dia, até atingir o total de 108.000 repetições. Também se costuma começar a prática com poucas repetições, tais como 9, 27, ou 54. Há muitas explicações para a importância do número 108, uma das quais seria: 9 planetas (representando o espaço) X 12 meses (representando o tempo). Espaço multiplicado por tempo é igual a toda a criação, que é igual a OM. Quando cantamos mantras, o número de repetições é controlado usando-se um cordão com 108 contas, chamado japa mala. Mala significa ‘uma coroa de flores’, referindo-se às contas, e japa refere-se ao processo de repetição. De acordo com a tradição, o número de repetições dos mantras é importante, mas a qualidade e a intenção colocadas ao entoá-los também são essenciais. A repetição dos mantras deve ser capaz de remover todos os outros pensamentos e objetos da mente. Com a prática, Mantra Yoga leva a um estado onde todo o corpo-mente está plenamente sintonizado ao processo: aquele que canta desaparece, e somente a vibração do mantra permanece.

Mantra Yoga na Vida Diária e a Prática de Asana Na vida diária, Mantra Yoga é uma maneira de focalizar a mente e de dirigir a nossa intenção àquilo que é central em nossa existência: a fonte de vida ou o Espírito divino. Os mantras normalmante utilizam uma forma tradicional, em sânscrito, mas podem também ser simplesmente uma afirmação que nos direcione a uma intenção específica como, por exemplo: “Senhor, faça de mim um instrumento da vossa vontade”.

Outro tipo poderoso de mantra para ser usado no dia-a-dia é chamado Ajapa Japa, que significa ‘mantra silencioso’.  Consiste em estar atento ao movimento de ‘sobe-e-desce’ da respiração, e ao som natural produzido por ela. Esse som é So, na inalação, e Ham, na exalação, e o seu significado é:  “Eu sou Aquele” ou “Eu sou uma parte integral da Fonte Única”. Esse mantra silencioso, intrínseco, pode ser usado a qualquer momento e em todos os lugares, simplesmente nos sintonizando com a respiração e percebendo nossa conexão inata com tudo o que existe. Como uma parte de nossa prática diária de asanas, os mantras podem ser usados para evocar qualidades específicas que gostaríamos de trazer para a nossa prática e para o nosso dia-a-dia. Tais qualidades incluem coragem (dhira), compaixão (karuna), amor (prema), entusiasmo (utsaha), entre outras. Elas podem ser cantadas durante a manutenção das posturas, inseridas na seguinte expressão: “OM …. devaya namaha.” Por exemplo, “OM karuna devaya namaha” – “Possa a minha vida ser inspirada pela qualidade divina da compaixão”.

Extraído de Introdução ao Yoga, Joseph Le Page, 2009.