Yamas e Niyamas

Yamas e Niyamas

A base de tudo, conduta ética, valores fundamentais e qualidades a serem cultivadas

Os YAMAS-Preceitos éticos do Yoga

1- Ahimsa-que significa “não-violência“, é o fundamento dos cinco Yamas, os valores éticos universais.

A prática de Ahimsa abrange todos os níveis de nosso ser, começando com nossos próprios corpos através da adoção de uma dieta saudável e estilo de vida, juntamente com o repouso adequado e gestão do estresse. Enquanto abraçamos nossos próprios corpos com maior cuidado e bondade, nós naturalmente expandimos Ahimsa para incluir nossos pensamentos e sentimentos, acolhendo-os sem julgar a nós mesmos tão duramente. À medida que praticamos a não-violência em relação a nossos corpos e mentes, nós experimentamos uma maior sensação de plenitude e paz interior, reduzindo a necessidade de controlar e competir, apoiando-nos assim em praticar a não-violência para com os outros seres. À medida que expandimos o nosso voto de Ahimsa a todos os seres, reconhecemos a nossa unidade essencial com toda a criação, permitindo tranquilidade para infundir todas as nossas interações e atividades. A maior violência emocional é aquela que praticamos contra nós mesmos. Reconhecer que os desejos e aversões são formados em relação as necessidades da personalidade, e não das necessidades do Ser real. Uma vez determinado que o nosso objetivo é o autoconhecimento, nos tornamos testemunhas de nossos padrões de violência, ao invés de nos identificarmos com eles. A habilidade de testemunhar, ao invés de reagir, já reduz substancialmente o nível de violência em relação a nós mesmos e em relação ao mundo.

2- Satya- significa “verdade“, e refere-se à veracidade em todas as nossas comunicações.

A busca diligente da verdade em nosso próprio ser, e sua expressão apropriada. A primeira verdade essencial é determinar se eu vou viver através do ser real ou através da personalidade. O Yogue busca a felicidade principalmente dentro de si, de dentro para fora. A personalidade procura a felicidade de fora para dentro. O Yogue também pode apreciar o mundo; pode até valorizar objetos materiais, mas sua felicidade não depende desses objetos. Esses objetos materiais e a própria apreciação da beleza da vida são extensões de uma paz e completude que já estão dentro de nós mesmos.

Para praticar a veracidade, é preciso primeiro desenvolver a capacidade de discernir o que a “verdade”. Trata-se de sintonizar com o nosso ser autêntico além do condicionamento da personalidade. Até sermos capazes de escutar a voz do nosso verdadeiro ser, nossas palavras podem refletir o que nós acreditamos, mas as nossas crenças são geralmente apenas um reflexo da nossa lente de condicionamento. À medida que nos alinhamos com o nosso ser autêntico, menos identificado com os gostos subjetivos e não gostos da personalidade, somos capazes de nos comunicar de forma mais clara e autentica

3- Asteya- significa não roubar, usar somente aquilo que é preciso. Refere-se a um equilíbrio natural de dar e receber dentro de todas as nossas interações e atividades. No nível mais básico, Asteya envolve a equidade nas nossas trocas materiais.

Asteya também se refere a maneira que utilizamos os recursos do planeta. Estamos conservando ou esgotando os recursos naturais? A ecologia emocional e a ecologia planetária estão interligadas. Quando aprendermos a economizar a nossa energia emocional, conseguiremos também cultivar a simplicidade.No sentido mais profundo, Asteya é o reconhecimento do valor da vida que temos recebido, usando todos os nossos talentos e possibilidades para o nosso próprio bem, para as nossas famílias e comunidades e para despertar o significado mais profundo da nossa vida.

 

4- Bramacharia- convervação de energia. O respeito à energia de vida que lhe foi concedida e a direção desta energia para o bem.

Brahmacharya é a “conservação da nossa energia da força vital”, que é cultivada ao nível do corpo, equilibrando descanso e atividade e por cuidar de nós mesmos de forma otimizada. Conservação de energia também é essencial ao nível dos nossos pensamentos e sentimentos porque o estresse constante, preocupação e negatividade drenam-nos mentalmente e emocionalmente, o que limita a nossa capacidade de desdobrar nossas possibilidades. Brahmacharya é especialmente importante nas relações íntimas, o que pode consumir grandes quantidades de energia com a dúvida, preocupação, culpa, ciúmes ou atividade sexual desequilibrada. À medida que praticamos conservação de energia em todos os níveis do ser, experimentamos abundante vitalidade para suportar com nossa jornada espiritual.

Manter o equilíbrio em todo os sentidos. Viver em estado de presença. Que seja o observador das reações dos sentidos e não a vítima deles. Viver para se lembrar de sua verdadeira natureza. Brahmacharya refere-se, particularmente a energia sexual. Se utilizarmos a sexualidade para preencher uma lacuna no nível da personalidade, acabaremos desperdiçando muita energia, pois a personalidade é um veículo que nos conduz ao ser real e não o nosso destino final. A sexualidade pode conviver com Brahmacharya se for compreendida como uma expressão de uma plenitude que já possuímos e não como uma busca para preencher nosso vazio emocional.

5- Aparigraha-desapego. A conduta dentro de seu próprio caminho, seguindo aquilo que você sabe que é certo, sem se preocupar com o que os outros têm, fazem ou dizem.

Aparigraha significa “não-apego”, e refere-se à ausência de apego e a ganância, especialmente em relação aos bens materiais para além das nossas necessidades básicas. Refere-se também ao apego excessivo dentro de nossas relações e nossa própria história pessoal. Através da prática de Aparigraha, também aprofundamos a nossa capacidade de liberar apego às nossas crenças, incluindo crenças espirituais que, quando realizadas de forma demasiado rígida, se tornam obstáculos para o despertar. A fim de manter a vida mais leve, é essencial reconhecer a integridade inerente do nosso verdadeiro ser. A medida que percebemos que já temos tudo o que precisamos, não precisamos mais buscar na vida tão desesperadamente por aquilo que acreditamos que nos fará completos. A medida que liberamos a necessidade de apego, tornamo-nos co- criadores em vez de proprietários, reconhecendo que a vida é uma corrente de apreço e de aprendizagem que sempre flui, cuja beleza só é revelada para aqueles que a seguram mais levemente.

Ao enxergarmos o autoconhecimento como sendo o verdadeiro tesouro dessa vida, as nossas reações emocionais relativas ao acumulo excessivo de bens, relacionamentos e de experiências diminuem bastante.

 

 

 

Niyamas- qualidades a serem cultivadas

1- Saucha-significa Pureza e refere-se à purificação em todos os níveis do nosso ser.

No nível físico, Shaucha é a purificação dos nossos corpos através de dieta e estilo de vida adequado. Shaucha também se refere à pureza no nosso ambiente através da criação de um espaço livre, aberto, inspirando-nos a viver com simplicidade, naturalmente, permitindo-nos concentrar em nossa jornada espiritual. Ao nível da mente, Shaucha é o espaço que nos permite atender cada nova experiência abertamente como um campo de apreciação, aprendizagem e despertar. Quando vivemos com menos julgamentos e atitudes pré-concebidas, padrões de pensamentos negativos, reações emocionais e crenças limitantes vêm à superfície para serem vistos, testemunhados e gradualmente liberados. À medida que enfrentamos a vida com uma maior abertura e simplicidade, a pureza do nosso ser essencial é revelada naturalmente.

É o seu compromisso de criar um espaço limpo e aberto no ambiente físico e dentro da mente. Simplicidade gera pureza. Na pureza da mente não entram medo, desejos e aversões.

O processo de purificação começa com a auto aceitação, porque as emoções mais tóxicas são culpa e vergonha. As vezes a intenção de estar puro sem trabalhar as crenças mais profundas acaba fazendo com que as impurezas reprimidas se manifestem como doenças. Então a primeira regra de Saucha é criar espaço para as emoções poderem vir à tona; para serem reconhecidas, aceitas como reações normais e então dissolvidas. Através da purificação relativa, por meio de dieta e estilo de vida saudáveis, ambiente saudável, prática de Yoga, reconhecemos, gradualmente que nosso Ser real cuja natureza inata é pureza, por ser plena, por ser completa.

 

2-Santosha- é contentamento, mas um contentamento em um sentido especial em que aprendemos a ser felizes na felicidade e na infelicidade.

Refere-se à habilidade de permanecer centrado e em paz dentro de nosso próprio ser, não importa o que está acontecendo ao nosso redor. Ao cultivar Santosha, aprendemos a permanecer equilibrados no meio da vida mesmo que essa sempre apresente desafios e oportunidades, não ficando muito para baixo quando as coisas não saem como planejado ou muito eufóricos quando as coisas vão bem. O contentamento é importante tanto nos níveis relativos e absolutos. No nível relativo, Santosha é uma prática em que damos as boas vindas as experiências da forma mais positiva possível, aceitando tudo o que vida traz como um aprendizado e uma bênção. No nível absoluto, Santosha é um reflexo do nosso verdadeiro ser, inerentemente inteiro e completo, e, portanto, não afetado por constantes mudanças da vida. À medida que descansamos em nosso contentamento essencial, os desafios da vida podem perturbar a superfície do mar, mas não lhes dá o poder de afetar as profundidades calmas do nosso ser interior.

 

3- Tapas- disciplina. É o seu compromisso com a prática regular e o entendimento que o progresso vem somente com esforço e determinação adequados.

Tapas significa “fogo”, e refere-se ao fogo da disciplina espiritual que queima as impurezas em todos os níveis do nosso ser, a eliminação dos obstáculos ao longo da nossa jornada espiritual. A prática de Tapas começa pela purificação do corpo físico, fortalecendo-o através de práticas de yoga regulares a fim de cultivar a saúde ideal como uma base importante para a transformação. A medida que Tapas gera calor interno, há uma tendência a afastar-se dela, e voltar para a “segurança” aparente da personalidade. Na prática de Tapas, no entanto, nós conscientemente abraçamos este calor, canalizando-o para acelerar o processo de transformação. Através deste processo, o calor de Tapas é gradualmente transformado na luz do despertar que orienta a nossa jornada espiritual.

4-Svadhyaya-auto-estudo. É a habilidade de ver seus padrões. Svadhyaya consiste no auto-estudo com a investigação dos padrões limitantes revelados através de tapas. Testemunhamos nossa tendência a reagir e assim gradativamente passamos a não mais nos identificar com esses padrões que vão perdendo o poder de nos controlar. Uma vez que não nos identificamos mais com esses padrões, a identificação com o Ser real acontece naturalmente, pois o Ser real é a nossa verdadeira natureza, enquanto os condicionamentos obscurecem o nosso ser real.

À medida que exploramos tudo o que surge dentro do nosso ser sem julgar ou reagir, nós liberarmos gradualmente nossa identificação com o nosso condicionamento. Através do processo de auto estudo, nós também desenvolvemos a compaixão, que nos permite ver que as nossas crenças limitantes foram adotadas para satisfazer as necessidades básicas, tais como amor, confiança e segurança. A medida que reconhecemos claramente que essas crenças não suportam mais a nossa jornada, elas são liberadas gradualmente. No espaço de clareza criado por esta liberação, as nossas qualidades positivas inerentes se desdobram naturalmente.

5- Ishvara Pranidhanaentrega ao Supremo.

A fim de compreender “entregar-se ao Senhor”, primeiro precisamos esclarecer a natureza de Ishvara, que não é uma divindade criadora separada da criação, mas é a inteligência que permeia toda a criação. Ishvara é a ordem universal, abrangendo as leis físicas, psicológicas e espirituais que criam, sustentam e transformam o universo. Por causa da natureza que permeia tudo de Ishvara, “entrega ao Senhor” é a capacidade de abraçar toda a criação com profunda reverência e apreciação. Ao honrarmos a criação profundamente, nós naturalmente reconhecemos o Divino em tudo, incluindo nossos próprios corpos, pensamentos e sentimentos. Este reconhecimento da ordem Divina dentro de tudo nos permite entregar-nos a cada momento da vida como um dom e uma bênção, mesmo quando os tempos são difíceis ou desafiador.

Textos extraídos do Livro Mudras for Healing and Transformation, Joseph e Lilian Le Page